Os doze trabalhos de Cuca na volta ao Palmeiras

Cuca está de volta. Terá a alegria e a idolatria da torcida, a confiança e, acreditamos, a paciência, inclusive deste blogueiro que nunca foi exatamente favorável a sua volta. Mas, enfim, é aquilo: eu sempre desejei que Cuca fosse feliz onde estivesse, e, se ele está no Palmeiras, a felicidade dele é a minha também.

Mas, já que ele chega visto como se fosse um Deus, com a calça vinho como seu sacrário, preparei uma lista aqui remetendo a Hércules, o famoso semideus da mitologia greco-romana responsável por 12 trabalhos, uma série de feitos complexos e realizações sobre-humanas. Não deixa de ser sobre-humano conseguir os 12 feitos abaixo:

1. Ganhar a Libertadores. “A Taça Libertadores é obsessão”, já cantava a torcida. A diretoria comprou o discurso e a Adidas encampou a história, lançando um jogo especial de camisas com o tema. O time está praticamente classificado para os mata-matas, mas é preciso transformar isso em vaga concreta e ir ajeitando o time para seguir adiante até a decisão, num caminho de longa expectativa até novembro.

2. Ganhar o Brasileirão. Ao contrário dos últimos anos, os dois torneios principais do ano terão fim próximo, o que significa que não há necessidade de sacrificar um em detrimento de outro – ao contrário, com o espaçamento dos duelos da Libertadores, é preciso estar o tempo todo na ponta dos cascos. E isso significa manter o ritmo no campeonato de longo prazo e pontos corridos. No ano passado, Cuca sacrificou a Copa do Brasil para manter a boa sequência no Brasileirão. Neste ano, com um elenco mais forte, é preciso encaixar os reservas com inteligência para manter o ritmo e ganhar os dois.

3. Encaixar Borja no time. Um dos erros de Eduardo Baptista foi não conseguir encaixar o time para jogar em função do centroavante colombiano. Cuca terá de mexer na formação do ano passado, já que Borja não é um atacante ágil como Gabriel Jesus, com facilidade para tabelas pelas laterais e servir os companheiros – ele jamais faria como Jesus fez contra o Botafogo, servindo Dudu depois de perder a primeira chance. Mas Cuca já teve sucesso em times com centroavante, como o Atlético-MG com Jô, então essa adaptação não deve ser problema.

4. Recuperar Tchê Tchê. O pulmão do time em 2016, presente em praticamente 100% da campanha, caiu de produção neste ano, jogando com funções diferentes das do ano passado. Cuca deve encaixar melhor o volante na equipe e fazer com que ele reencontre sua importância para o time.

5. Acertar a defesa. O Palmeiras de Cuca fechou o Brasileirão com apenas 32 gols sofridos e conseguiu passar com a defesa ilesa em 15 dos 38 jogos, um desempenho memorável. Neste ano, o time não sofreu gols em 8 dos 23 jogos que disputou, uma marca mais ou menos parecida com a de 2016, mas a defesa vem falhando muito em momentos cruciais – só nos últimos três jogos pela Libertadores foram sete gols, quase todos em bolas pelo alto. Não se ganha títulos com uma defesa instável.

6. Recuperar Vitor Hugo. O zagueiro parece estar de malas prontas para a Itália, mas, antes de ir, ainda será útil e precisa retomar a boa forma dos últimos dois anos. Com Cuca ele teve seus melhores momentos, e está na hora de voltar a eles.

7. Despertar Dudu. Essa tarefa parece ser a mais fácil. O capitão teve uma leve queda de desempenho e voltou a mostrar alguns sinais de irritação que pareciam ter se perdido com o tempo (não só na expulsão injusta contra o Peñarol). É hora de novas conversinhas na sala do chefe na Academia para recolocar o temperamento nos eixos.

8. Entender-se com o elenco e a diretoria. Não é necessário um “vestiário em paz”, só que as coisas se ajeitem internamente, sem vazar e dar combustível para a “imprensa de fofoca” que Eduardo Baptista criticou no Desabafo de Montevidéu.

9. Recuperar a motivação de todos. Em vários jogos do Palmeiras no ano foi possível notar jogadores desmotivados e com uma certa preguiça de estar em campo. É evidente que jogar no Palmeiras e receber um ótimo salário deveriam ser motivação o suficiente, mas a gente sabe que no mundo real não é assim: um chateado com a reserva, outro com problemas pessoais e por aí vai. Assim, o técnico terá de descobrir um jeito de manter todo mundo focado nas várias frentes de disputa.

10. Achar um lugar para Moisés. Essa é uma tarefa de médio e longo prazo, visto que o Profeta só deve voltar, com sorte, em outubro. Mas, diante do excesso de jogos e competições, certamente será necessário – e um trunfo e tanto para fazer a diferença. Reencontrar um lugar para nosso camisa 10 num time bem modificado é a missão do treinador.

11. Ganhar a Copa do Brasil. Assim como a Libertadores, a Copa do Brasil terá seus jogos alternados com a reta final do Brasileiro. Já que estamos sonhando alto (e investindo alto num elenco forte e numeroso), não é impossível sonhar com a tríplice coroa.

12. Ganhar o Mundial. E acabar de vez com as piadinhas idiotas de quem não conhece história. Já temos Mundial, vamos buscar o segundo, quem sabe contra o mesmo adversário do primeiro – mas, né, é sempre bom deixar de escutar conversa mole.

Fácil? Obviamente que não será, mas o Hércules da história original fez coisas mais complicadas, uma delas domar um javali gigante – que nada mais é do que um porco avantajado. Cuca conta com elenco forte e apoio total da torcida, por ora com as cornetas guardadas, para realizar em sua missão. A bola está com ele.