O forte planejamento que não deu certo no Palmeiras

O elenco, da SE Palmeiras, participa de coletiva de imprensa, antes do treinamento, na Academia de Futebol. Responderam as perguntas dos jornalistas os jogadores Dudu, Moisés, o técnico Alberto Valentim, o goleiro Fernando Prass e o jogador Edu Dracena (E/D sentados a mesa)

O ano de 2017 começou e o torcedor do Palmeiras literalmente se empolgou. Borja, Guerra, Felipe Melo…mais os jogadores campeões em 2016 (com exceção de Vitor Hugo e Gabriel Jesus). Era a mistura perfeita para títulos importantes. Era a mistura perfeita de um planejamento executado à dedo. Foram conversas, reuniões, execuções. Por que o ano foi desastroso?

Maurício Galiotte assumiu o Palmeiras após vencer as eleições como candidato único. Sem oposição, ele assumiu o cargo com uma certa tranquilidade. Digo certa tranquilidade porque o bom trabalho do presidente Paulo Nobre ainda o cercava e impunha uma certa pressão por taças. Ao escolher ficar do lado de Leila Pereira, da Crefisa, Galiotte praticamente eliminou Nobre do quadro político. O ex-presidente queria participar da gestão, porém teve a ideia ceifada pelo seu ex-vice. A justificativa não foi muito clara, mas Galiotte queria ter a injeção financeira da patrocinadora e ter mais liberdade na hora de contratar. Queria fazer a gestão de forma unilateral e, claro, levar os louros da glória (ambição de qualquer político de clube no país e no exterior).

Ao lado de Alexandre Mattos, antes leal escudeiro de Nobre, o atual presidente foi ao mercado e não travou os bolsos. Trouxe o que tinha que trazer, fechou negócio com quem tinha que fechar. No meio do bolo, fechou negócios ruins e não conseguiu se posicionar. Não teve postura para se posicionar de uma forma clara e objetiva e nem teve a humildade de assumir seus próprios erros.

Ao assistir o Palmeiras cair na Copa Libertadores em casa, Galiotte disse para a imprensa que ‘o mais importante era disputar todos os anos. Uma hora, ganha’. Esse discurso é válido, mas não colou quando visto um planejamento e investimento de mais de R$ 100 milhões. Para pressionar ainda mais, o Corinthians faturou o Paulistão e terminava o primeiro turno do Brasileiro de forma espetacular e totalmente fora da média. Coisas do futebol.

A gestão é bastante criticada por parte de conselheiros, diretores e sócios. A imagem da diretoria perante o torcedor comum é péssima. É refletida como arrogante e derrotada. Quem está do lado de dentro dos muros do Palmeiras sabe que Galiotte circula tranquilo e conversa com todos, mas não aceita muitos conselhos e ideias. Quer fazer a sua gestão valer a pena mesmo com os resultados ruins em campo. E tenta de todas as formas ser diplomático com todos os lados, todas as alas internas. Acende vela para Deus e o Diabo ao mesmo tempo.

A relação com a Crefisa não é mais a mesma. Também pudera: além dos R$ 100 milhões em jogadores, foi investido mais uma grana alta na estrutura do clube e também na estrutura do Centro de Treinamento. A imagem da empresa atrelada aos fracassos da equipe em campo gerou insatisfação, mas não para ser o bastante para desistir do patrocínio. Ao ver como é Mustafá Contursi em sua essência, Leila Pereira resolveu se afastar do seu padrinho político (como ela mesmo o trata) e tentar seguir da melhor maneira possível. Mas Contursi é implacável: uniu cardeais e pessoas com bastante trânsito para gerar o ódio contra a patrocinadora, criando um certo material ‘bélico’ contra Galiotte, agora desafeto.

O poder do ex-presidente só não é maior e mais descarado porque ele foi envolvido recentemente em escândalo de venda de ingressos. Caso contrário Contursi ainda iria comandar o Palmeiras de longe, com o fio transparente que sempre teve. A postura dos correligionários de Mustafá agora é que a Crefisa ‘joga dinheiro fora ao patrocinar o Palmeiras’. Toda essa discussão está cansando ambos os lados.

E 2018? O que esperar?

Estava na lanchonete do clube na semana passada quando Galiotte passou por lá e conversou com todos. Uma prática comum já que ele era do social e sempre presente em todos os eventos. Disse diretamente que o Palmeiras não vai segurar investimentos e vai trazer quem for necessário, montando um grande esquadrão para ganhar tudo. O problema maior dessa afirmação é que ela já foi feita em dezembro passado e não nos aproximamos nem perto dessas glórias. Ao contrário: geramos vexames atrás de vexames e chegamos ao ridículo de fazer coletiva em grupo para justificar resultado ruim dentro de campo (e sem nenhum membro da diretoria presente).

Infelizmente o Palmeiras não consegue maximizar o sucesso nem com dinheiro no bolso. Nem esbanjando. Talvez se trouxéssemos todos os jogadores da seleção da Alemanha ainda assim corremos o risco de passar o ano em branco. A explicação é bem direta: a parte política do clube não ajuda. Pensamentos retrógrados não ajudam. Avançamos em muitos pontos ao longo do tempo, mas ainda temos um pé nas antigas e frustradas gestões. Gestões essas que colocavam qualquer um como diretor estatutário apenas para ostentar carteirinha e status em troca de favores políticos. Tal prática é adotada até hoje, inclusive.

O ano começa sem qualquer tipo de previsão. Que San Gennaro nos ajude!