Felipe Melo e o exemplo de profissionalismo

Lembro bem até hoje: Quando Felipe Melo foi anunciado pelo Palmeiras, pelo menos quatro programas esportivos decretaram que ele não daria certo. Simplesmente assim. Não vai dar certo, pronto e acabou. Fim de papo.

Atitude totalmente diferente de quando Kazim chegou ao Corinthians. O ‘gringo da favela’ foi considerado um grande reforço pelas mesmas mídias. Estranho, né? Como pode um volante que já jogou na seleção ter menos holofotes que um atacante totalmente desconhecido e sem muito histórico? Coisas da perseguição histórica ao Verdão.

Na sua apresentação, Felipe Melo não segurou seu ímpeto e disse hipoteticamente que daria até ‘tapa na cara de uruguaio’. A mídia mais uma vez o criticou por tal declaração. Acharam forte, desproporcional com o momento. E o Palmeiras teria confronto com os uruguaios do Peñarol na Copa Libertadores. O jogo de lá, no Siglo, todo mundo viu o que aconteceu. A inflamação criada foi para dentro de campo e por pouco não terminou em desgraça.

Eduardo Baptista, então técnico do Palmeiras, caiu. Não suportou a pressão por sua teimosia. Caiu e não teve conversa. Veio Cuca. Repatriamos o bom e velho Cuca, Campeão Brasileiro meses antes e não quis continuar, alegando problemas familiares. Compreensível, claro. Era perceptível que Cuca não gostava de Felipe Melo e de seu estilo de jogo. Após eliminação lamentável da Copa do Brasil pelo Cruzeiro (o Verdão vencia com gol de Keno até os 42 minutos do segundo tempo), Felipe cobrou seus companheiros no vestiário. Cobrou forte, apontou dedo, bateu na mesa. Não gostou de perder e não gostou da apatia, raridade no futebol de hoje.

Assustado com a situação, Cuca decidiu afastar o volante. Foi uma situação estranha, sem graça e que dividiu o grupo. Pouco depois, após conversa, ele foi reintegrado, mas daquele jeito. Após ameaça judicial, o Palmeiras decidiu que era melhor repatriá-lo. Mas Cuca não segurou a onda e caiu. Foi embora e não foi nem perto aquele técnico que levantou a taça do Brasileirão. Foi e levou uns bons trocados para viver sua vida pacata.

Em sua conta na rede social, Felipe Melo postava frases religiosas e apostava forte em seu trabalho. Treinou pesado, correu muito, melhorou alimentação, manteve seu corpo. Começou 2018 com outro tipo de personalidade, ainda mais forte, e ganhou a confiança de Roger Machado.

Com apenas quatro jogos no ano (três como titular), ele mostrou que tem plena condição de ser titular. Forte no meio-campo, trava os adversários e ainda faz lançamentos primorosos. O gol de Dudu contra o Bragantino originou-se de uma jogadaça de mestre, um lançamento absurdo. Contra o Santo André acompanhei de perto. Lançou muito, brigou muito. Jogou demais. E está muito mais comedido nas entrevistas, nas conversas. Melhorou o profissional e o psicológico, focado no trabalho e no resultado.

O volante já repetiu várias vezes que o Palmeiras ‘coloca comida na casa dele’. Mesmo com bom salário e com propostas de fora, Felipe sabe que o clube pode retribuir. Sabe que a torcida é apaixonada e que gosta muito do seu estilo. Estilo brigador e que defende a camisa. Algo raro atualmente no futebol brasileiro.

Graças a Deus que teve a ameaça Judicial. Antes Melo do que Cuca. Amém…