Jornalismo de palco e o grande circo na televisão

Interview with businesswoman on press conference

Todo domingo, às 22h, meu pai ligava a TV no Mesa Redonda Futebol Debate, na TV Gazeta. Eu, ainda criança, acompanhava com ele. Eu gostava muito do Roberto Avallone, do Fernando Solera e até do Chico Lang com suas ‘pérolas’ alvinegras. Na brincadeira, claro. Chico sempre comentava de forma inteligente os assuntos e fazia leve provocação. Sabia que a torcida do Palmeiras passaria pelas cabines de imprensa após os jogos no antigo Palestra Itália o chamando de ‘viado’. Fazia parte do futebol. E não tinha homofobia.

O tempo foi passando e outros programas apareceram. A Band resolveu lançar Neto como comentarista, outros canais colocaram alguns refugos da imprensa que não tiveram sucesso na profissão e o pior: ex-jogadores, ex-dirigentes e muitos outros ex. A não obrigatoriedade do diploma de jornalismo confirmada por meio de decisão do STF transformou os programas esportivos em circo.

O absurdo é tão grande que Neto não conseguiu esconder sua paixão pelo Corinthians e ficou muito revoltado no ar quando a chance do Alvinegro perder o título brasileiro apareceu em 2017. Todo mundo aplaudiu e deu risada como se fosse algo normal, algo corriqueiro. Cada palavra proferida pelo ex-meia corintiano atingiu o queixo da profissão em cheio. Jornalistas de verdade, que sabem o código de ética, sentiram-se enterrados e mortos profissionalmente por alguns momentos.

A paixão velada transcendeu a TV e caiu na internet. A sorte é que temos uma grande ‘patrulha’ palmeirense que está de olho em tudo e faz relatos. Ontem o Palmeiras venceu o Botafogo-SP por 1 a 0 e a Fox Sports soltou uma nota dizendo que a vitória palmeirense foi ‘magrinha’. O Flamengo bateu o Cabofriense pelo mesmo placar e teve outro tipo de publicação pelo canal. Vejam:

 

 

 

Aos olhares de algumas pessoas pode parecer que estamos ‘pegando no pé’. Mas casos como esse relatos acima acontecem com certa frequência. O que estou descrevendo aqui não é só a questão do Palmeiras, é a questão esportiva. A falta de respeito e a falta de ética que envolve a profissão.

É compreensível que veículos precisam de cliques, precisam de visualizações e consequentemente de receitas para continuar vivendo e existindo. É natural que exista uma forçadinha de barra no título da nota para que o torcedor clique e leia. Afinal a informação não é paga, é gratuita. O que custa clicar e ler? O problema não é esse. O problema é a enganação e a notícia fake. O problema é ver o Palmeiras se dando bem na competição e lançar uma nota sobre possível briga dentro do elenco, situação que nunca existiu.

Se as famosas fake news decidiram a eleição do maior cargo político do mundo, por que não atuaria em time de futebol? Será que o jornalismo sério, ético e com compromisso está tão fora de moda assim?

Fair play financeiro

Ultimamente muito tem se falado do ‘fair play financeiro’. Palavra nova, antes não existia. Foi criada junto com o sucesso da gestão no Palmeiras. Notícias saiam aos montes confirmando o êxito da gestão palmeirense. Em maio todas as dívidas estarão quitadas. Como assim? Todas quitadas? Sim.

O Palmeiras tornou-se um clube auto-suficiente e não precisa da Crefisa. Foi uma ajuda muito importante em 2015, 2016 e 2017, mas agora o Verdão caminha com as próprias pernas. Todos os reforços que chegaram para a temporada de 2018 não tiveram intervenção financeira da patrocinadora. O fato incomodou profundamente alguns jornalistas que, olhando do lado de lá, viram notas confirmando a dívida corintiana com empresa de marmitas. E viram também a Prefeitura de São Paulo tirando dinheiro de hospitais para injetar na quitação de parte do Itaquerão. Difícil, né?

Foi dessa discrepância de mundos que surgiu o fair play financeiro, inventado por algum ‘profissional’ da imprensa. Nada mais é do que ‘bom, se eu estou na merda, você precisa me abraçar e ficar na merda comigo’. Incomoda ver o sucesso do clube rival. Incomoda, no meio de tantas gestões falhas e desconexas, ver o Palmeiras de volta ao protagonismo. O bom mesmo era quando não tínhamos dinheiro para quitar as contas de luz na gestão de Arnaldo Tirone. O bom mesmo era quando apresentamos Boiadeiro com chapéu e laço.

Fala de fair play financeiro com Barcelona e Real Madrid. É um assunto totalmente torno e desproporcional. Sem cabimento.

Enquanto isso seguimos no protagonismo, com grandes reforços e bombando na imprensa. Mandem fake news, mandem fair play financeiro. Vamos comemorar demais e os grandes jornalistas terão que cobrir. De colete com símbolo do Palmeiras e tudo mais. Será a morte para alguns.

Boa semana!