Campeão Paulista 1942

Palmeiras nasce Campeão

Palmeirenses entram em campo com a bandeira do Brasil.
Palmeirenses entram em campo com a bandeira do Brasil.

A disputa do Campeonato Paulista de 1942 transcorria sem maiores conturbações até que, de repente, o então Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, resolveu abdicar de sua posição neutra em face da Segunda Guerra Mundial. Movido por interesses políticos, ele decidiu apoiar os aliados (tendo Estados Unidos da América, Inglaterra e União Soviética como líderes) contra as forças do Eixo – formado por Alemanha, Japão e Itália.

Embora se tratasse de questão divorciada do esporte, ao menos em tese, o novo posicionamento de Vargas repercutiu de forma imediata na esfera futebolística. O sentimento de hostilidade aos países do Eixo, cada vez mais forte e alimentado pelo governo federal, serviu como pretexto para antipatizantes do Palestra Itália, que mantinha a tradição italiana no nome e nas cores, defenderem a mudança do nome do clube.

Num primeiro momento, os dirigentes do Palestra optaram pela denominação “Palestra de São Paulo”. Acabaram, contudo, sucumbindo às fortes pressões inimigas, cujo intento efetivo, mesmo, era tomar o estádio do Parque Antártica. Pressionada e desgastada em razão de tamanha ofensiva, a diretoria do clube, em reunião que invadiu madrugada, decidiu acolher o belo nome “Sociedade Esportiva Palmeiras” para designar o tradicional Palestra Itália. O conjunto das cores representativas do clube não ficou para trás, e também passou por modificação. Saiu de cena o tradicional vermelho, ficando a reinar tão-somente o verde e o branco.

Como se não bastasse a série de episódios turbulentos que conduziram ao seu nascimento, o Palmeiras estava às voltas com a decisão do título paulista daquele ano, tendo como maior obstáculo em seu caminho o forte São Paulo de Leônidas. O destino dessa competição, por sinal, seria selado justamente contra o tricolor do Morumbi, em prélio válido pela penúltima rodada do segundo turno.

Chegado o dia do grande confronto citado acima – o inesquecível 20 de setembro de 1942 -, os jogadores palmeirenses adentraram o gramado do estádio do Pacaembu carregando uma bandeira brasileira para conquistar a simpatia do público presente, receosos que estavam de uma recepção fria ou até mesmo violenta dele. O resultado de iniciativa tão magnífica não poderia ser melhor: após breve momento de silêncio, os espectadores renderam-se ao óbvio e lançaram mão de palmas entusiásticas e comoventes para reverenciar a nobreza palmeirense, em clara demonstração de harmonia e paz.

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Quando a decisão começou, entretanto, o estado de espírito dos atletas remou contra a maré pacifista do público. O prélio foi marcado por tensão, nervosismo e faltas violentas, mas, sobretudo, pela flagrante superioridade alviverde, materializada em vitória inquestionável por 3 a 1. Com direito até a abandono de campo dos irritadiços rivais. Assim, o Palmeiras conquistava o primeiro título de sua gloriosa história com o novo nome. Nas arquibancadas, uma faixa estendida resumia com rara felicidade a essência do espetáculo: “Morreu o líder e nasceu o campeão”.

Regulamento

FPF: Todos contra todos, em dois turnos, com pontos corridos.

Campanha

Pontos: 36 | Jogos: 20 | Vitórias: 17 | Empates: 02 | Derrotas: 01 | Gols pró: 65 | Gols contra: 19 | Saldo: 46

Jogos do Campeão

1º Turno
6 x 0 Comercial
1 x 1 Portuguesa
4 x 2 Ypiranga
3 x 0 Juventus
3 x 2 Santos
3 x 2 S.P. Railway
2 x 1 Portuguesa Santista
6 x 0 Hespanha
2 x 1 São Paulo
1 x 1 Corinthians

2º Turno
3 x 0 Hespanha
3 x 2 S.P. Railway
4 x 0 Juventus
4 x 1 Ypiranga
5 x 2 Santos
6 x 0 Comercial
4 x 0 Portuguesa
1 x 0 Portuguesa Santista
3 x 1 São Paulo
1 x 3 Corinthians

Jogo do título

Palmeiras 3 x 1 São Paulo
Local: Pacaembu
Data: 20/09/42
Árbitro: Jayme Rodrigues Janeiro
Renda: $ 231:239
Público: 45.913
Palmeiras: Oberdan; Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og e Del Nero; Cláudio, Valdemar, Villadoniga, Lima e Echevarrieta. Técnico: Del Debbio.
São Paulo: Doutor; Piolim e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho, Valdemar de Brito, Leônidas, Remo e Pardal.
Gols: Cláudio, aos 19 min, Valdemar de Brito, aos 24 min, e Del Nero, aos 42 min do primeiro tempo; Echevarrieta, aos 14 minutos do segundo tempo.

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