O mundo saiu da II Guerra esperançoso em que se iniciava ali uma era de prosperidade duradoura. A derrota do nazi-fascismo teve uma imediata repercussão aqui: com a vitória das democracias não se sustentava mais o Estado Novo, ditatorial, de Vargas. Em 1945 ele foi deposto, sem resistência. O país se reerguia e começava a oferecer emprego para todos, que agora recebiam em cruzeiros, a moeda que em 1942 aposentara os réis. E havia mercadoria de primeira para comprar, pois os artigos estrangeiros entravam livremente. (Em 1948 o novo presidente, Eurico Gaspar Dutra, endureceria o jogo, dificultando as importações para proteger a indústria nacional.) Já era possível tomar um banho confortavelmente com um chuveiro elétrico Lorenzetti fabricado aqui. Em 1946, foi inaugurada a Companhia Siderúrgica Nacional, carta de alforria, pois com aço próprio o país poderia sonhar em desenvolver a indústria.
O paulistas se orgulhavam de ter em seu território a primeira auto-estrada brasileira. a Via Anchieta ligando a capital a Santos, inaugurada em 1947.
Em 1950. Getúlio Vargas volta ao poder, agora pelo voto de 3,85 milhões de eleitores. Livres da censura existente à época em que ele comandava o Estado Novo, respira-se abertura na área das artes e espetáculos, em todos os níveis. O rádio firmara-se como um importante meio de comunicação; o país dispunha de 117 emissoras e 3 milhões de aparelhos, para uma população de quase 52 milhões de habitantes. A influência européia nos hábitos do país diminuía violentamente, perdendo para a norte-americana; no rádio, pontificavam as bandas de swing. Sonhou-se até em criar uma Hollywood por aqui, a Companhia Vera Cruz. Estúdio montado nos padrões americanos, faria 18 filmes – o primeiro foi “Caiçara’· e o último “Floradas na Serra” -de 50 a 54, emplacando um sucesso internacional, ‘”O Cangaceiro”. A ousadia maior, contudo, foi a de Assis Chateaubriand, o dono dos Diários e Emissoras Associados: no dja 18 de setembro, ele colocou no ar a primeira estação de televisão brasileira, a TV Tupi. Não foi pouca coisa: essa foi a quarta em todo o mundo, sendo que duas outras (França e Inglaterra) eram estatais e apenas uma (a NBC americana) privada. Um ano depois os paulistanos assistiriam a outro arroubo: sua cidade passaria a contar com uma bienal de artes plásticas modernas, por iniciativa de Francisco Matarazzo Sobrinho. apelidado Ciccilo.
A euforia nacional só não transbordou nesse período devido a um desastre ocorrido exatamente onde o brasileiro começava a exibir perfeição, o futebol. Sede da Copa do Mundo – para a qual se ergueu o maior estádio do planeta, o Maracanã de 200 mil lugares – o país fez bonito com sua seleção até a final com o Uruguai, quando o fatídico gol de Gigghia selou os 2 a I que levaram o caneco embora e enlutaram todas as torcidas. Felizmente o Palmeiras estava a postos para lavar a honra nacional: em 22 de julho de 1951, jogando no Maracanã pelo empate, cravou 2 a 2 frente a Juventus da Itália e conquistou a Copa Rio, o primeiro campeonato Mundial interclubes. No ano anterior, um Brasil mais católico que hoje tinha recebido a visita do Papa, em peregrinação pelo Ano Santo (comemorado a cada 25 anos pela Igreja). Vencendo o campeonato, o Palmeiras ganhou nome alusivo – o de “Campeão do Ano Santo”. Por tais conquistas, nas festas em São Paulo, passou-se a ouvir uma saudação especial:
Quando surge o alviverde imponente no gramado em que a luta o aguarda ..
Tratava-se do hino oficial do clube, com-posto em 1949 pelo maestro Antonio Sergi, diretor artístico da Rádio Cruzeiro do Sul e líder da Orquestra Colúmbia, com letra do jornalista Gennaro Rodrigues, de A Gazeta Esportiva. Muitas vezes mais esse hino seria cantado em comemorações do mesmo tipo.