Os anos em que começa o jejum

Nos anos 70 o paulistano começou a andar de metrô e a dirigir carro movido a álcool, enquanto assistia ao desmoronamento de vários mitos mundiais que acompanhara em toda a idade adulta

Em sucessão, foi derruba­da a longa ditadura salazarista em Portugal e morreu o ditador Francisco Franco, na Espanha – notícias que tocavam muito de perto dois importantes grupos de imigrantes abrasileirados. Pela televisão, assistiu-se à renúncia de Richard Nixon, presidente da nação mais poderosa do mundo. Em terreno longe da política internacional, quem foi jo­vem nos anos 50 chorou a morte de Elvis Presley, eterno rei do rock; quem era adepto do “Flower Power” dos anos 60 entristeceu-se com o assassinato de John Lennon, dos Beatles.

Oposicionista, o paulistano votava no MDB nas eleições parlamentares de 1974, enquanto assistia ao nascimento de um novo tipo de político, com o qual conviveria nos anos seguintes. De voz grossa e fala direta, Luiz Inácio da Silva (Lula, então, era só apelido, ainda não incorporado ao nome) apareceu nas greves que começaram a estourar no ABCD em 1978. O Brasil caminhava para o fim da década de 70 ostentando ainda cifras orgulho­sas na economia – oitava economia e décimo segundo parque industrial do mundo-, mas os trabalhadores cobravam sua parte da riqueza. Começava um movimento que iria desembo­car na campanha das “diretas-já”, eleição do civil Tancredo Neves à Presidência da Re­pública, a morte dele, posse do vice José Sar­ney, Plano Cruzado …

Nesse período começam a aparecer alguns conceitos novos pelo mundo, que logo batem por aqui. Há uma crescente inquietação no planeta quanto aos destinos dele próprio. A bandeira que os ativistas empunham agora é verde, pela defesa do meio ambiente. Da mesma forma, as pessoas se preocupam mais consigo mesmas, com a saúde de seu corpo. Esse passa a ser o novo esporte nacional, prati­cado pelas academias de ginástica que se mul­tiplicam e pelos parques públicos – como o do Ibirapuera paulistano, onde “veteranos” adep­tos da corrida ganham a companhia de cente­nas de “novatos”. Todos cultuam agora o médico norte-americano Kenneth Cooper, inventor de um método de condicionamento corporal, cujos ensinamentos foram introduzidos no Brasil por um capitão do Exército, Claudio Coutinho, que seria o técnico da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1978, na Argentina. (Para decepção dos brasileiros, conquistada pelo time da casa em manobras mal explicadas.)

O time que disputou o último jogo antes da excursão de 1972, contra o São Paulo, no dia 21 de maio de 1972 – Em pé: Eurico, João Carlos, Raul Marcel, Dudu, Alfredo e Zeca. Agachados: Fedato, Leivinha, Madurga, Ademir e Nei (Foto: Acervo Histórico)
O time que disputou o último jogo antes da excursão de 1972, contra o São Paulo, no dia 21 de maio de 1972 – Em pé: Eurico, João Carlos, Raul Marcel, Dudu, Alfredo e Zeca. Agachados: Fedato, Leivinha, Madurga, Ademir e Nei (Foto: Acervo Histórico)

Nos esportes profissionais, o que houve de alegre foi ver Émerson Fittipaldi levantando a taça de campeão mundial de pilotos em 1974 – a segunda, ganhara também em 72 – uma cena que só se repetiria sete anos depois, com Nélson Piquei. Para o Palmeiras, vai começar nesse período uma fase difícil no que ele tem de mais vistoso, o futebol. Já começa o cam­peonato paulista de 1976 debaixo de certo des­crédito, pois naquela temporada o time vinha desfalcado do lendário zagueiro Luís Pereira e do exímio cabeceador Leivinha, ambos vendi­dos para a Espanha. Mas ainda havia Ademir da Guia – que deixaria o futebol exatamente ao final dessa temporada, depois de jogar 666 ve­zes pelo Palmeiras – e outros craques como Leão (o goleiro que mais vestiu a camisa da seleção brasileira em Copas do Mundo), Edu e Nei. Ia correndo o campeonato e o time ia crescendo, até ganhar por antecipação o título, ao vencer o XV de Piracicaba por 1 a O. Foi uma vitória brilhante. De deixar saudade mesmo … pois passariam 16 anos até que os torcedores pudessem voltar a comemorar um título no Paulistão.