Time não. Aqui é uma Academia

Em todo o mundo os anos 60 foram de pro­testo e contestação. O Brasil não ficou de fora da agitação. No campo político, uma crise se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Seu vice e sucessor, João Goulart, foi afastado pelos militares em 1964. (Esses iriam criar, três anos depois, o que se chamava então “milagre brasileiro” -um crescimento econô­mico acelerado, lançamento de grandes obras, mas sem liberdade política.) Nos costumes ocorria uma revolução violenta. Uma estilista de moda inglesa, Mary Quant, botara as pernas das mulheres à mostra, ‘ao criar a minissaia. Quatro patrícios dela começavam a assombrar o mundo usando o nome de Toe Beatles e cabelos compridos. No Brasil, uma parte da juventude copiava as novidades, outra parte preferia fazer sua própria história. Isso ocorreu notavelmente na música popular: de um lado estourava Ro­berto Carlos e sua Jovem Guarda, a versão bra­sileira dos Beatles; de outro floresciam os festi­vais de música popular brasileira. Altamente na­cionalistas e politizados, chegavam a formar torcidas como no futebol, cada urna a defender seu preferido.

Palmeiras, a grande Academia de Futebol

No futebol, a propósito, a seleção brasileira (que ganhara no Chile o bicampeonato mundial em 1962) brilharia pela última vez em 1970, ao tomar-se tricampeã e trazer definitivamente para o país a Taça Jules Rimet -mais tarde roubada da Confederação Brasileira de Futebol e derre­tida. Para os palmeirenses, surgia na época um ídolo, até hoje reverenciado no clube, Ademir da Guia, o Divino. Trazido do Bangu em 1961, ele fez a história do clube nos quinze anos se­guintes. Com muita justiça, o Palmeiras ganhou um novo apelido, respeitado até pelos adversá­rios: passou a ser a Academia.

Tanto era, que o time foi escolhido, em 1965, para representar o Brasil. contra a seleção do Uruguai, pela taça Rio Branco na inauguração do estádio Mineirão em Belo Horizonte. Em campo, os palmeiren­se: . com o imponente uniforme canarinho, hon­raram o convite … e mais uma vez vingaram os fatídicos 2 a 1 da Copa do Mundo de 50: deram de 3 a 0. Na mesma época, longe dos campos de futebol. começavam a aparecer discretamente três rapazes paulistanos de sobrenome italiano, os Fittipaldi – Émerson e Wilson – e José Carlos Pace.

No autódromo paulistano de Interlagos, guiando o que tivessem à mão (automóveis da pré-história da indústria nacional e que nem existem mai . como Alfa-Romeo, Gordini, Sirn­ca). começaram a atrair público para um esporte restrito a poucos aficcionados. Dando partida para um enigma que até hoje intriga o mundo todo: corno é que um país pobre como o Brasil pôde produzir três grandes campeões mundiais de automobilismo, Emerson, Piquet e Senna, em apenas uma geração?