Vitórias na capital do trabalho

Nos dez anos que marcam a segunda in­fância e a adolescência do Palestra a cidade que abrigava o clube começou a tomar seu destino e decolar para ser a capital industrial do país, escolha que a faria uma das maiores cidades do globo.

Já em 1923, os paulistanos tinham podido ver no Palácio das Indústrias (um edifício que quase sete décadas depois iria abrigar o gabinete do Prefeito) a lª Expo­sição de Automobilismo. Com automóveis importados, é claro, pois a primeira indústria a montar veículos aqui, a General Motors, só inauguraria sua fábrica em 1925, para botar na rua 25 mil unidades só no primeiro ano de funcionamento. Apesar do bom desempenho nos negócios, os então chamados “capitães da indústria” estavam insatisfeitos. Membros da Associação Comercial (fundada em 1894) decidiram ser a hora de ter seu próprio órgão de representação. Assim, em 1928, 52 deles assi­naram o rompimento com a Associação, for­mando o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, o qual, dois anos mais tarde, seria rebatizado Federação das Indústrias do Esta­do de São Paulo, FIESP -uma entidade que nos anos seguintes, e até hoje, passaria a in­fluir decisivamente nos destinos do país.

Na presidência da FIESP estava o homem que foi o espelho do sucesso onde todos os imigrantes miravam, Francesco Matarazzo. Desembarcado com a família em Santos em 1881, aos 27 anos de idade, ele teve uma enorme decepção logo na chegada: o barco que carregava a carga de ba­nha trazida por ele para começar a vida no Brasil afundou.

Sem desanimar, Francesco to­mou o caminho de Sorocaba, onde abriu uma “venda”, esta­belecimento co­mercial onde se encontrava de tudo, de comi­da a tecidos.

Só ao prospe­rar, no início do século, de­cidiu mudar para São Paulo, ajudado pelos irmãos Giuseppe, Luigi e Andrea. Continuou seus negócios na capital, de forma que na primeira década do século ganhara fôlego para ampliá-los. Instalado na várzea do Tietê, bati­zou sua empresa sob o nome de Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, IRFM, marca que no meio século seguinte colecionaria 365 indústrias. atuando em quase todos os ramos conhecidos. Os caminhos do conde Matarazzo ( o título foi-lhe concedido em 1917 pelo rei da Itália, Vittorio Emmanuelle) sempre se cruzaram com o do Palestra. Em 1921, por exemplo, quando o clube precisou de dinheiro para pagar o Parque Antártica -comprado no ano anterior -, vendeu a ele parte do terreno, vizinho da IRFM.

São Paulo efervescia, naqueles anos 30, não apenas nos negócios – quando chega­ram aqui as ondas de choque do “crack” de 29, a quebra da Bolsa de Nova York -, mas princi­palmente na política. Os paulistas, em defesa da idéia de que o Brasil precisava de mu­danças profundas, pegaram em armas em 1932, lutando por uma nova Constituição. Os imigrantes não ficaram neutros: todas as colô­nias apoiaram o movimento. Derrotados os paulistas, o período que se seguiu foi ruim. Das 600 indústrias brasileiras que quebraram em decorrência da crise mundial que seria chamada de “Grande Depressão”, a maioria era de São Paulo. Muitos políticos foram para o exílio, do qual voltariam em 1933, quando fi­nalmente foi instalada a Assembléia Consti­tuinte. Apesar de toda a movimentação, o Pa­lestra conseguiu manter as atividades. Em ple­no 1932, levou duas taças de Campeonato Paulista: futebol e basquete. Nessa última ati­vidade, aliás, conseguiu uma série de cinco campeonatos (iniciada em 1931) fazendo o clube pentacampeão da modalidade e creden­ciando a equipe a representar o Brasil no Cam­peonato Sul-Americano (1934) em Buenos Aires, de onde trouxe o terceiro lugar. O time de futebol, além do título de 32, levou também os de 33 e 34. Seu primeiro e único tri.

Time do Palestra Itália, Campeão Paulista de 1932.
Time do Palestra Itália, Campeão Paulista de 1932.