Auxiliar técnico, que está de volta ao clube após experiência no RB Brasil e estágio na Europa, tem acompanhado muito o Napoli

Foi um pedido de Cuca, em junho, que trouxe Alberto Valentim de volta ao Palmeiras. Os dois haviam saído do clube no fim do ano passado como campeões brasileiros. O técnico retornou antes, em maio. O auxiliar, depois de uma experiência como comandante do RB Brasil, ainda passou um tempo estudando na Itália até voltar a trabalhar. Refeita há três meses, a dupla vem se ajudando diariamente de novo na Academia de Futebol.

– Tem sido até mais fácil, porque eu já conhecia o trabalho do Cuca, a forma que ele gosta de trabalhar. Ele já conhecia minha forma de trabalhar também. Eu já sabia aquilo que ele gosta em relação a treinamentos, o que ele gosta no intervalo. Isso acelerou bem o processo – contou ao GloboEsporte.com o membro da comissão técnica permanente, que ainda sonha em se firmar como treinador.

– Nossa relação é muito boa, de muito respeito, muita confiança. O Cuca confia no meu trabalho. Eu procuro fazer muito bem esse papel de auxiliar, ajudando-o em todos os aspectos, técnico e tático. Durante a semana, nos treinamentos. Depois, no jogo, desço no intervalo para trocar ideia com ele e o Cuquinha (irmão e também auxiliar de Cuca) em relação às coisas que vi lá de cima. Procuro ser o mais dinâmico possível para ajustar alguma coisa para o segundo tempo.

Cuca é um dos cinco treinadores de quem Valentim foi assistente no clube desde 2014. Antes dessa parceria, o ex-lateral (com passagens por diversos clubes brasileiros e italianos, como Udinese e Siena) já havia auxiliado e substituído interinamente Marcelo Oliveira, Oswaldo de Oliveira, Ricardo Gareca e Gilson Kleina. Em 11 partidas à frente da equipe, teve seis vitórias, um empate e quatro derrotas.

Saída e primeira experiência como técnico

Quando Cuca optou por não renovar contrato, em dezembro de 2016, e a diretoria acertou com Eduardo Baptista, Valentim pediu demissão. Ele alimentava a esperança de um convite para ser treinador pela primeira vez, que acabou vindo do RB Brasil, da primeira divisão paulista.

– Fiquei esperando o que iria acontecer. Tinha decidido dar um tempo como auxiliar e tive a proposta, mas não teve frustração nenhuma, não teve briga nenhuma. Tanto é que voltei para cá com as portas abertas, com as mesmas pessoas que estavam na diretoria. Foi um momento que achei que deveria sair para um clube que me deu oportunidade como treinador, com uma estrutura bacana – diz, satisfeito.

– Foi muito rica, vou levar para os meus próximos desafios. É lógico que ficou um gostinho amargo por não ter classificado para a segunda fase, mas vi um time muito organizado, com padrão de jogo. Gostei muito, fortaleceu muito essa passagem pelas coisas que eu penso, que quero para o amanhã, quando voltar a ser treinador.

Estágio de quase um mês na Roma e na Udinese

Encerrada a passagem no RB Brasil, veio a ideia de retomar os estudos no futebol italiano. Além de se encontrar com Luigi Delneri na Udinese, clube no qual jogou entre 1999 e 2005, Valentim passou a maior parte do tempo na Trigoria, região em que fica o CT da Roma, à época dirigida por Luciano Spalletti, atual treinador da Inter de Milão.

– Se tenho uma qualidade, é que eu vou sugando, no bom sentido, todas as pessoas com quem eu trabalhei, como o Cuca agora. Procuro pegar o máximo, no trabalho, numa conversa até informal. Fico muito atento para pegar todas as coisas boas das pessoas com bagagem maior do que a minha. E o Spalletti é uma grande referência minha lá fora, fui passar uns dias com ele novamente.pela experiência.

– Levei todo o meu trabalho no Red Bull. Dois jogos completos para assistirmos juntos, gols que sofremos, gols que fizemos, tudo que programava de treinamento. Foi um estágio de verdade, porque entrava na Roma às dez horas da manhã e saía às sete horas da noite. Eu via vídeos, ele pedia para eu pontuar o que via de positivo, de negativo, para discutir comigo o que achava que estava certo ou não. Foram espetaculares esses 28 dias que passei na Itália.

Inspirações na Itália e, sobretudo, no Napoli

Um dos conselhos de Spalletti foi seguir o Napoli, time que, sob o comando de Maurizio Sarri, já vinha enchendo os olhos pelo bom futebol e, depois de ter sido terceiro colocado na temporada passada, ocupa neste momento a liderança do Campeonato Italiano. É o grande candidato a pôr fim à hegemonia da Juventus.

– O Napoli consegue unir muito bem duas fases do jogo, fugindo até da característica do futebol italiano em relação à fase ofensiva. É um time que tem hoje muita posse de bola, muita qualidade de jogo. E que tem também a qualidade da fase defensiva italiana, que é perfeita. Para mim, a melhor do mundo – analisa Valentim, antes de se estender.

– É um time que joga o tempo todo no campo do adversário. Seja ele o Real Madrid, nas oitavas de final da Champions League, quando foi eliminado, mas marcando em cima no Bernabéu. Eles fazem 1 a 0 no começo, jogam com os atacantes marcando o goleiro, um pressing na fase ofensiva. Na fase defensiva, é uma aula. É o time que estou estudando mais. Sempre quando dá, estou baixando jogos, editando algumas coisas para amanhã trazer para o Palmeiras.

Futuro como treinador e exemplo de Carille

GloboEsporte.com: Quando diz sobre seu futuro como treinador, é um futuro próximo ou não
Valentim: – Este ano quero terminar como auxiliar, quero ajudar o Palmeiras. A gente tem chance de ser campeão, estamos lutando para ficar no segundo lugar, no mínimo, para ir para a Libertadores no ano que vem. Terminando o campeonato, aí vamos ver o que vai acontecer. Mas hoje eu só penso em ajudar o Palmeiras, em ajudar a comissão técnica para terminarmos o ano com os objetivos que traçamos lá dentro.

Você tem um esquema tático predileto hoje em dia?
– Nas vezes em que fui treinador no Palmeiras e no Red Bull, joguei no 4-2-3-1, no 4-3-3. Depende muito também das características que você tem de jogadores. O Cuca mesmo, com as opções, ele muda o esquema às vezes, obedecendo muito a característica de cada um. Não fujo disso também. O futebol brasileiro deu um salto de qualidade em relação à parte tática. Hoje você consegue enxergar muito mais do que antigamente.

O Carille, ex-auxiliar do Tite, vem fazendo um grande trabalho no Corinthians. Qual a importância de trabalhar com treinadores consagrados, como Tite, Cuca?
– É o que eu falei sobre sugar conhecimento dos outros. Conversei com o Carille há um tempo, fomos jantar, ficamos duas horas e meia falando de futebol, de conceitos, do que achávamos que era legal, do que poderia trazer de fora para cá.

As ideias são muito claras. Ele deu essa continuidade do Tite, mas dá para ver que, de tudo que a gente conversou, tem muita coisa dele também. Essa organização tática, um time com padrão de jogo de verdade. Pelas entrevistas hoje, mas naquilo que eu já tinha conversado com ele quando ainda era auxiliar, vejo que ele está conseguindo passar da teoria para a prática muito bem.

Relação com os torcedores palmeirenses

Embora apareça pouco diante das câmeras, Valentim é um rosto conhecido e um profissional admirado pela torcida. No fim do ano passado, quando Cuca decidiu não seguir no clube por questões particulares, o nome do auxiliar era o predileto para assumir o trabalho, superando treinadores consagrados no mercado.

GloboEsporte.com: Tem ciência dessa aprovação, desse carinho?
Valentim: – É uma empatia muito grande. Da minha parte, que gosto muito do Palmeiras, e aceitei esse convite para ser auxiliar por se tratar do Cuca, da diretoria, mas muito pela aceitação da torcida também. Sei do carinho que eles têm por mim. Falei isso quando saí, em dezembro, e falei novamente na minha volta.

Nos lugares que eu vou, restaurantes, bares, na rua, o torcedor demonstra carinho por mim. Fico muito feliz, porque eles sabem que procuro ajudar da melhor maneira possível, sempre exercendo bem a função. Ora como interino, quando fui chamado. Agora, como auxiliar. Eles sabem que é de verdade, que procuro dar meu máximo todos os dias, porque voltei para ser campeão novamente.

E você mora perto do clube, num reduto palmeirense. Encontra muito torcedor no dia a dia?
– Bastante, sempre. Eles têm essa demonstração de carinho. É muito legal trabalhar em um lugar onde você é bem quisto, as pessoas gostam do seu trabalho, elogiam. Isso te dá ainda mais motivação. Voltei para essa função de auxiliar por isso tudo, por esse ambiente que eu já conheço. Aqui eu me sinto em casa, de verdade.