Técnico palmeirense reclama do vazamento de informações no clube e sugere chegada de diretor.

Por Thiago Gomes

Gilson Kleina, atual técnico do Palmeiras, está sofrendo o que outros treinadores consagrados sofreram. O clube tem muito vazamento de informação e um sério problema na hora de negociar com jogadores.

Em entrevista ao site Globo Esporte, Kleina sugeriu a chegada de um diretor sem ligação política e com visão abrangente do clube como um todo. “Vejo que o Palmeiras precisa de um diretor executivo que viva intensamente o clube, que use sua vivência com o mercado da bola em prol do Palmeiras. Os bastidores se movimentam o ano todo, porém agora, em dezembro, o mercado é aquecido. Precisamos de um profissional adequado para isso,” sugeriu.

Além disso, Kleina sugeriu a chegada de um auxiliar para César Sampaio, gerente de futebol. Seria uma espécie de coordenador técnico, que auxiliaria Sampaio na negociação e contratação de novos atletas. Mesmo com dificuldades financeiras, segundo Kleina, é possível ser “criativo” na busca por novos atletas.

Confira a entrevista na íntegra:

GLOBOESPORTE.COM: Como foram as primeiras reuniões de planejamento com a diretoria do Palmeiras?
Gilson Kleina: As reuniões começaram na segunda-feira. Primeiro, houve um encontro com todos os setores do clube, começamos a colocar um modelo para 2013. Começamos a desmembrar toda a pré-temporada, que vai ser curta, e a princípio será no CT mesmo. Estabelecemos horários de todos os trabalhos técnicos, avaliações, discutimos também de que forma minimizar as lesões que ocorreram muito em 2012. Muito disso se passou por não ter existido uma pré-temporada adequada. São 13, 14 dias de preparação que teremos agora, e tem de fazer jogo-treino, avaliações… Pode ser que a gente entre com outra equipe no início do Campeonato Paulista e foque na Libertadores. Conversei com o financeiro e o departamento de futebol, estou mergulhado nisso. Definimos as saídas de jogadores, agora vêm as contratações, que exigem um trabalho mais árduo.

O clube já dispensou 20 jogadores e só há um acertado (Ayrton, do Coritiba). O que faz o Palmeiras ter tantas dificuldades para contratar?
Eu não consigo entender qual é a satisfação que a pessoa tem em vazar informações de um jeito avassalador. Você faz alguns comentários, alguma reunião, e entra na mídia com uma facilidade… Isso não é bom para diretoria, para comissão técnica, e até para o torcedor, que fica na expectativa de um grande nome e às vezes não se concretiza. O que eu ouço muito é que não temos dinheiro, mas ao mesmo tempo é preciso ter uma estratégia criativa. Não ter dinheiro é aceitável até certo ponto. Deixar de realizar as contratações eu não posso aceitar.
E como realizar?

Dependo de um financeiro criativo, de uma estratégia de marketing que possa captar o recurso. E mais, sabemos da história da camisa do Palmeiras, isso está eternizado. Tem muitas variantes para trazer um jogador, e não dá para apenas justificar em cima de uma parte financeira.

Como otimizar esse processo? Você acha necessário o clube contratar alguém externo para cuidar do futebol, sem ligação com a política do clube?
O César Sampaio tem trabalhado dia e noite, o Frizzo (Roberto Frizzo, vice-presidente) também, os dois estão com boas intenções e querem fazer um Palmeiras forte. Mas temos de ser transparentes. Se não vamos ter condição de trazer as referências, não vamos deixar de passar para o torcedor a realidade do clube, até para não gerar uma expectativa tão grande. Eu vejo que o Palmeiras precisa de um diretor executivo que viva intensamente o Palmeiras, que use sua vivência com o mercado da bola em prol do Palmeiras. Os bastidores se movimentam o ano todo, porém agora, em dezembro, o mercado é aquecido. Sabemos de jogadores que cairiam muito bem com a camisa do Palmeiras, outros grandes jogadores estão em negociação. Precisamos de um profissional adequado para isso. Precisamos também de um coordenador técnico para trabalhar junto com o César Sampaio, um elo entre comissão técnica e o departamento médico, de fisiologia, nutricional. Precisamos de mais um cara que fique dentro de campo, e outro para contratações pontuais fora de campo.

Quantas contratações você quer para 2013?
Minha contratação seria de seis jogadores, mas, se isso não acontecer, precisamos de no mínimo três, até pela carência que nós temos em algumas posições, principalmente na zaga e no ataque, alguém para fazer companhia ao Barcos.

Sua lista tem planos A, mas também B e C. Hoje, há possibilidade de um plano A chegar?
Pelo que estamos vendo, é um caminho difícil. São valores altos, mas que eu entendo que a marca Palmeiras pode viabilizar, se melhor trabalhada. Existe a aceitação do grande jogador em fazer parte desse projeto. Ninguém fica pequeno no Palmeiras, todo mundo que vem para cá cresce muito. Nesse momento, com a saúde financeira prejudicada, é ter a criatividade para saber utilizar essa vantagem, pelo calendário, pelo que representa essa nação. Vamos brigar pelos planos A. Se não der, vamos em cima daqueles que são frutos de nossa observação.

Nomes como Cléber, da Ponte Preta, são frutos dessa observação?
O Cléber, na verdade, é um jogador que se destacou na Ponte Preta, pedi sua contratação do Catanduvense. É um tipo de jogador que estava na observação. O Cléber está dentro de um contexto, mas não seria a prioridade, até porque está bem empregado e o Palmeiras precisa entrar em contato com a Ponte.

É necessário um novo segundo atacante para formar dupla com o Barcos?
Não queremos comemorar vitórias, queremos comemorar títulos. Precisamos de um elenco forte. O Barcos tem muitos recursos, não é só jogador de área. No último jogo contra o Santos (derrota por 3 a 1, última rodada do Brasileirão), ele fez um lançamento de 30, 40 metros para o Maikon Leite fazer o gol. O Barcos fez isso porque tinha um jogador de velocidade para ele lançar. É ter um jogador com essa característica.

Maikon Leite e Luan podem fazer essa função, mesmo com rejeição da torcida? São soluções para o Palmeiras do ano que vem?
Por mais que tenham essa rejeição da torcida, Maikon Leite e Luan são a realidade que temos hoje. Nós precisamos resgatar esses jogadores. Também precisamos ouvir o lado deles, se querem a continuidade ou não. A rejeição passa se ganharmos os jogos, se o Palmeiras tiver uma boa organização dentro e fora de campo. São dois jogadores pelos quais todos os clubes têm interesse, mas não posso aceitar a troca do Maikon Leite por um reserva do Cruzeiro, por exemplo, estaria trabalhando contra o Palmeiras. O Luan também é um jogador que outros clubes grandes querem.

Com uma contrapartida, você aceitaria liberar esses dois jogadores?
Não é questão de querer ou não. Mas, quer o Maikon Leite? Temos de trabalhar em cima de alguém do mesmo nível. Nada contra os jogadores reservas do Cruzeiro, mas nesse momento o torcedor não ia entender essa troca. Como é que sai um jogador de velocidade, moderno, para trazer outro só por trazer? É melhor dar moral e confiança para quem está aqui, e o Maikon ainda pode dar retorno.

Outra posição que preocupa o palmeirense é o gol. Tem Bruno, Deola, Alemão… Para a Libertadores e a Série B, é preciso um goleiro mais experiente?
A gente conversa muito sobre a posição de goleiro. Para substituir o Marcos leva tempo, e o Bruno está pagando por isso. Eu vejo uma evolução no Bruno, só que os resultados não vieram, aí ficou ruim para mim, para ele, para todo mundo. Estamos repatriando o Deola, que foi muito bem e subiu com o Vitória, mas eles querem continuar com ele. Se nós trouxermos um goleiro, e ele tem de ser experiente, é para dar tranquilidade para a evolução do Bruno ou do Deola. É nisso que a gente pensa. Num clube como o Palmeiras, a experiência conta muito, principalmente no gol. O Raphael Alemão precisa jogar pra mostrar seu potencial, dei a ele o exemplo do Muriel, que foi emprestado para dois clubes e hoje é titular do Internacional. Goleiro tem de jogar. Se não der certo com Deola ou Bruno, é claro que vamos trazer um goleiro.

Fernando Prass, Dida, Fábio… Quais desses nomes estão em pauta?
Nunca vi um clube com tanto tesão de vazar informação quanto o Palmeiras. Temos de tomar mais cuidado com isso, pois o Palmeiras não pode ser motivo de especulação para tudo, até para você ter mais credibilidade no mercado. O Dida, quando eu cheguei, já havia sido oferecido. É experiente, um nome que está com a diretoria. Fernando Prass também me agrada muito. Mas, acima de tudo isso, quero dar continuidade ao Bruno e ao Deola.

Ao longo da entrevista, você mostrou incômodo com o excesso de vazamentos de informações no clube. Acha que a contratação de um diretor executivo resolveria isso?

Sem dúvida, o diretor tem a vivência e o conhecimento, ele sabe onde pegar informação, com quem está falando, funciona com mais discrição. Hoje, não se pode fazer uma consulta… A partir disso, já acham que o Palmeiras está contratando. A gente sabe que grandes nomes estão aí, Felipe Ximenes, Ocimar Bolicenho, José Carlos Brunoro, Rodrigo Caetano… São profissionais que estão na área. Nas primeiras reuniões eu pedi a contratação desse profissional, até para minha filosofia de trabalho fluir melhor.

E com tanto trabalho, vai dar tempo de curtir as férias?
Estou mergulhado nesse projeto, se tiver de trocar as férias por conquistas, vou ter férias. É claro que a família está esperando, mas não tem como desligar nesse momento. Viemos de uma queda, meu sentimento ainda está voltado pra isso. Precisamos dar um retorno rápido à torcida. Se der tempo, aí eu vou para Curitiba rever os familiares. Será importante para pegar mais energia.