O Palmeiras é finalista do campeonato paulista. Se essa sentença fosse dita duas semanas atrás, seria considerada extremamente improvável. À época, surgiu uma discussão se a queda precoce na competição estadual seria um vexame. A maioria dos argumentos sustentados pelos que defenderam que sim, seria um vexame, teve relação de grandeza, de investimento e de competitividade. Estimar a grandeza de um clube em algo substancial e concreto é arbitrário. A regra vai de cada um. Os outros dois argumentos caem naquilo que eu chamo de imediatismo futebolístico, que o Brasil é pioneiro e maior expoente mundial. Imediatismo não só no resultado em campo, mas no momento de julgar um trabalho.

Se não estivéssemos em um período extremamente complicado de pandemia global, e se o Palmeiras não tivesse se classificado para os matas do Paulista, talvez essa discussão seria válida. Mas uma palavra precede qualquer início de debate sobre qualquer adjetivo que queiram dar: planejamento. Antes da classificação no Campeonato Paulista, o Verdão foi campeão da Libertadores, da Copa do Brasil, é líder do seu grupo na atual liberta e já classificado. Tudo isso dentro de 5 meses. Pensando novamente na situação em que estamos, conseguir esses feitos e apostar no estadual em um time alternativo cheio de garotos da base (essa que abastece o elenco principal e foi fundamental nas conquistas agora citadas) não é nenhuma loucura, é planejamento. Planejamento esse que foi esquecido pelos críticos quando se tratou de estadual, e que mostra seus frutos agora, na reta final.

Esse pode ser mais um dos muitos ensinamentos que Abel Ferreira dá ao futebol brasileiro, o de que não devemos enxergar o futebol como um videogame, na qual perdeu é game over. A pressão exercida pela mídia e pela torcida é que acarreta esse “game over”, e só de existir essa discussão do tal “vexame”, antes mesmo do campeonato ser definido, deixa claro o quão imediatistas nós somos. Esse costume explica a troca incessante de técnicos nos clubes brasileiros e o bombardeio de xingamentos em redes socais de jogadores, por exemplo. Apesar do pouco tempo e do bom resultado, essa não é uma regra para o esporte como um todo. O português pegar o bonde andando e ainda sim ter sucesso nas competições só mostra o quão excelente profissional ele é por conseguir se encaixar no nosso futebol. O ensinamento dele nesse Campeonato Paulista foi no melhor estilo Didi Mocó: aguarde e confie.

Um trabalho só pode ser julgado da forma que foi quando terminado. E um trabalho leva tempo, algo que nós brasileiros não estamos acostumados no futebol. O resultado da final do Paulistão ainda está aberto, mas o que era “vexame” agora pode se tornar um bicampeonato.